Meu deus! Eles
se reencontraram. Foi da forma mais casual possível: numa loja dessas de
discos, livros e etc. Eles já haviam estado lá muito tempo atrás... juntos. Pedro
tinha em mãos um livro do Freud, uma caixinha daquelas bonitinhas, usadas pra
por presentes e um CD do The Raveonettes. Alex logo pensou: “ele está
apaixonado”.
- Oi!
- E aí,
Pedro?
- Comprando
filme? – Pedro nunca fez, em toda sua vida, uma pergunta com tanta naturalidade.
Era como uma pessoa extremamente educada puxando assunto com um ex-colega do
cursinho de inglês.
É incrível
o comportamento humano, é incrível o fluxo da vida. A mesma pessoa que você
apresenta pros seus amigos como “meu namorado”, alguns dias, meses, anos ou
décadas depois, é um conhecido com quem você se esbarra em algum lugar por aí.
Vocês já trocaram segredos, fluidos, gemidos, presentes, declarações,
promessas. Agora vocês trocam um olhar de formalidade, como quem quer dizer que
tem maturidade e está bem, como se acreditassem que tudo passa.
- Pois é, tá
cheio de drama em promoção... Quer dizer, filmes, no geral... É que... Você
gosta de drama, eu acho. Tem drama. Tudo doze e noventa.
- Nem vejo
drama mais, acredita?
- Acredito
– e sorriu forçado.
Não, Alex
não acreditava. Pedro sem ver drama? Ele tinha todos os filmes do Walter
Salles, como não vê mais drama? Quem ele quer enganar? Ele está se enganando,
se acha que não gosta mais de drama.
- Pois é.
Como que tá lá no jornal? Escrevendo muito? Esses dias, vi que uma matéria sua
foi capa, parabéns!
- Eu saí do
jornal.
- Sério?
- É, aquela
foi minha última matéria pra eles – Alex não conseguia mais disfarçar o
desconforto. “Que conversa idiota”, pensou.
- Ah, sim...
Então, cara, vou pra fila do caixa, pagar isso aqui. Bom te ver!
- Vai lá,
até mais.
Alex foi
pra seção de literatura estrangeira. Estava a caminho do caixa quando encontrou
Pedro, mas não ia ficar na fila com ele, os minutos constrangedores durariam
uma eternidade. Sem contar que, mais alguns segundos, e falaria “espera aí,
depois você termina de comentar sobre o tempo, queria te falar que você sem
barba fica horrível e que essa pulseirinha que você tá usando é ridícula, além
do mais, que voz irritante você tem, e em cinco anos de namoro, eu nunca tinha
percebido como você é chato e forçado, puta que pariu...”, e por aí vai. Pedro,
no caixa, se perguntava se Jorge iria gostar da caixinha que comprara pra ele.
No caminho pra casa, lembrou dos filmes do Walter Salles, decidiu que voltaria
a assistir drama. Será que Jorge assistiria com ele, como Alex fazia?
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