sábado, 20 de agosto de 2011

Aos fumantes de almas

Estou de partida. Levo comigo minha insignificância, a falsidade que eu julgava necessária para sobreviver e a frigidez que me obrigaram a aderir, só pra não falarem sem motivo. Levo você em minha memória, que se fosse uma mala, eu deixaria no aeroporto. E falo sem culpa, pois já cansei de sofrer. Cansei de castigar minha alma suja, ela é o que tenho de mais puro. Mas bem, não vou gastar mais um texto falando só de você, isso nunca me trouxe sequer um “eu sei que a dor existe”.

Eu me sinto como um cigarro que fumam sem tragar. Tão dispensável, tão puramente estético, tão ornamental e nada mais que isso: um enfeite depreciativo para construir uma falsa imagem de quem se autodestrói. É como se a pessoa que estivesse comigo dissesse: vejam, estou me destruindo, reconheçam minha coragem e minha ousadia. Mas nem me tragam. Me queimam, me puxam, me sugam, me transformam em cinza, me deixam pairar em suas bocas e depois soltam toda a fumaça. Fazem de tudo, mas não me tragam, eu sirvo só para o estrago de mentirinha. Não me deixaram estragar os pulmões, a garganta e tirar o fôlego de verdade.

Pois agora, senhoras e senhores, o acessório para seu falso mártir está de partida. Não, eu não acho que fará diferença, mas o gosto de libertação que meu escasso amor próprio experimenta ao dizer isso faz valer o feito. Estou lavando minhas mãos, me livro agora de todos vocês, sanguessugas. Não posso dizer o mesmo das feridas que deixaram. Expostas e contaminadas. Mas não serão minhas necroses um empecilho para que eu ria com imensa satisfação ao ver-lhes afundar na própria mentira, no dia em que passarem a acreditar na dor que inventaram para conseguir pena. Minha dor e a desgraça que me persegue não sumirão. Tudo será, independente do que eu fizer daqui pra frente, “mérdico” como sempre foi. PORÉM, já possuo a coragem pra sacrificar o que amo e ignorar a dor de quem me culpa. Que apodreçam.