segunda-feira, 18 de junho de 2012

Comorbidades


Quando não desce na garganta a intragável verdade da vida, trago um cigarro.

Quando não se consegue engolir a tristeza: “por favor, mais uma cerveja”.

Quando existir dói por razões que nem existem, eu lhe peço um sinal de vida.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

"Título"


Um vazio enorme tem tomado conta de mim, em todos os aspectos. Até o meu vocabulário anda vazio, por isso anda quase impossível escrever. Parece que tudo se tornou assombrado por ausência e eu desisti de tentar. Desisti de tentar dar algum sentido a minha vida, desisti de melhorar, de sair desse buraco que eu nem lembro mais quanto tempo faz que eu habito.

Talvez seja isso, o buraco se tornou meu lar e eu tenho medo de sair de casa. Tenho medo por que todas as vezes que coloquei o pé pra fora fui obrigada a recolhê-lo. Mas eu tenho enfeitado meu buraco, o tornado suportável com cigarros, drogas e álcool. Quem diria alguns anos atrás que eu estaria assim? Apesar de nunca ter sido uma pessoa exatamente feliz, eu tinha amor próprio, esperança, vontades, seis refeições ao dia e respeito pela minha vida. Agora eu tenho um buraco.

Quantas pessoas já tentaram me tirar daqui de dentro! Mas é algo meu e você não sabe como é estar aqui e como é pensar em sair. Agradeço a esperança que você tem de me ver bem e mudada, mas não vai acontecer, isso é coisa da sua cabeça buscando me colocar na sua realidade, a qual eu não vou pertencer.

E como eu previa: um vazio de palavras depois de três parágrafos vomitados.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Ser só


Me disseram que existe alguma coisa pra preencher esse buraco. Um amor, segundo eles, formar um casal. Mal sabem eles, pobres coitados, que nascemos sós, vivemos sós e assim morremos. Depois do beijo, depois do sexo, depois das promessas, ali está você, sozinho. O buraco não é para ser preenchido, ele é um lembrete, uma nota que diz: “veja, você é um só, não importa o que faça, o que divida, você é um só, você não pode abraçar o mundo e nada pertence a você, nem esse amor que ela diz ser seu”.

domingo, 3 de junho de 2012

E se...


e se eu te disser que esse espaço no teu coração que você diz ser meu
não me cabe?
e se eu disser que eu não me caibo
e por isso não te acolho?
e se tudo for mesmo só a tentativa de chegarmos ao que idealizamos?
algum dia vamos nos contentar com o real?
e se tudo tiver um fim em si mesmo,
o que levaremos de cada momento?
se nada faz sentido, não deveríamos estar felizes?
afinal, podemos dar o sentido que quisermos.
mas não estamos felizes... 
sinto muito por isso.

mas e se eu dissesse:
“fica, aqui tem lugar pra você, em meio aos meus espinhos”?
seria outro passo em falso, outra proposta covarde,
pois eu sei que eu não ficarei aqui (em mim), 
mesmo se você ficar.
hoje habito aqui,
amanhã habito em outra promessa.

e será assim,
estação após estação.
alguns  com a certeza sem graça de que tudo vai ficar bem,
outros com seus trinta gatos, trancados no apartamento, esperando a próxima má notícia.
outros que pensam não saber de nada...
e são os únicos que sabem de alguma coisa.