sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Cigarro



Antes de tudo, queria agradecer ao tempo nublado e à chuva por me trazerem de volta a vontade de escrever. 

Eu estava tentando parar de fumar, mas percebi que não consigo. É feio falar, dizem que não pode, o certo é repetir: “eu vou conseguir, vai ser bom pra mim, blá blá blá”. Mas a minha necessidade de ocupar minha boca com algo que não seja palavras é mais visceral que meu senso de autopreservação. Aliás, ocupar minha boca me preserva mais do que salvar meus pulmões. O cigarro difícil de deixar não é o que rega as conversas, é o que substitui o silêncio, o que faz companhia, o que alimenta o hábito da fuga e do alívio, não o que alimenta o vício. O foda não é a nicotina, o alcatrão, o difícil de deixar é a fumaça, o trago e toda a estética que concretiza sua poluição interna.  Cada bater de cinza representa algo que eu deveria conseguir deixar ir e não consigo, e cada trago algo que eu deveria trazer pra perto.

Sinto muito, dentes, garganta, pulmões, mas minha necessidade maior é a de me manter sã, mesmo destruindo vocês pra isso. Mas, paciência, não é assim que praticamente tudo na vida funciona? Não dá pra salvar tudo e algumas pessoas optam por sacrificar o que faz bem a elas de maneira mais óbvia. Eu sou uma dessas pessoas, mesmo não me orgulhando disso. Não classifico como autodestruição, talvez seja apenas o retrato de que cada um tem seu jeito torto de sobreviver, inclusive acelerando o processo de morrer.