quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Para Álvaro - com amor e sobre amor

Caro Álvaro,

Sei que nos afastamos, e óbvio que não me refiro apenas à distância quilometrada. Apesar do tempo sem ter uma conversa que ultrapassa os limites do educado e protocolado, ainda me lembro da sua “ausência de conselhos” que tanto me fazia bem em nossas conversas profundas. Sua forma não-convencional de ajudar: ficando em silêncio e oferecendo seus ouvidos. Você não derrama conselhos e muito menos dita fórmulas, por isso estou recorrendo a você... eu preciso ser ouvida, lida, acolhida, não retrucada, respondida e diagnosticada.

Eu amo uma garota, e quantas vezes você já não me ouviu falando isso! Mas, nas outras vezes era apenas uma notícia, meu “amor” não ia além da palavra, ele estava apenas na beleza do relato, não em mim, dentro de mim. Dessa vez, eu AMO uma garota, amo com minha barriga gelada de quando a vejo e amo com minha saudade que não some sequer segundos depois de vê-la... Álvaro, eu a amo com tudo de mim. Tudo! E tudo me denuncia, desde minha respiração até minha inabilidade de lidar com ela e com tudo que ela traz.

Quão besta é isso que exponho? Quão óbvio e clichê é esse sofrimento? Sinceramente, não me interessa. É só disso que sei falar, é só isso que sei sentir, é só dessa tragédia amorosa de que me alimento. Não é o amor que machuca, é a impossibilidade de mantê-lo puro diante de tanta sujeira (que eu e ela criamos). Todos nós alimentamos monstros que só destroem o que deveria ser bom. Que cômico darmos asas e armas a bestas que atacam nossos próprios tesouros. Somos masoquistas, burros ou livres de estratégia emocional? Ou, pior ainda: será que nós sabemos que não merecemos ser felizes e nos sabotamos inconscientemente pra podermos compensar nossos erros e a infelicidade que causamos?

(Me perdi. Não sei falar dela, de nós, sem me perder em devaneios cíclicos, sendo assim, não espere mais que uma sopa de trechos confusos.)

Enfim, é inútil eu citar o nome dela, como nos conhecemos e minhas expectativas (até porque as perdi depois de uma série de atentados que minha esperança sofreu). O fato é que não tê-la, não saber tê-la, fez com que meu cérebro (ou coração, como os românticos preferem) se tornasse um misto dos personagens de Charles Schulz da série de tirinhas Peanuts. Estou tão inapta para obrigações quanto Patty, depressiva e reflexiva como Charlie Brown, previsível como Lucy e, o pior, estou como Linus van Pelt com seu cobertor e, no meu caso, ela é o cobertor. Eu me odeio tanto por não conseguir trazê-la pra perto de mim e me odeio mais ainda por não conseguir caminhar até ela, talvez por medo de sofrer tanto como já sofri das outras vezes que me permiti não apenas ser dela, mas ser de seu mundo. O mundo dela me machuca, me arranha, me expulsa. A cada vez que piso naquela realidade, Álvaro, eu sou expurgada de lá e de mim mesma, dos meus princípios, das minhas pré-concepções e dos meus preconceitos.

Eu não me encaixo lá e acho injusto demais tentar fazê-la se encaixar aqui, no meu mundo. Eu já tentei, mas me diz que pessoa se encaixa em algum lugar que não seja onde ela aprendeu a estar? Não sei se alguma de nós tem a força necessária pra reformular seus limites, e isso não depende do quanto se ama, mas do quanto se acredita. Se você já experimentou desses amores que viram o mundo do avesso e tiram o gosto das comidas, bem, então você sabe que a dor de não saber amar e não saber ser amado é indescritível. E, no final das contas, eu sei que não se simplifica o que é complexo desde sua raiz. Eu não sei o que fazer. Viver sem ela não é uma opção, pois eu não preciso sequer ter contato pra que ela esteja percorrendo cada milímetro de mim. Viver com ela, até onde eu sei, me desabita de tudo que é seguro.

Sem mais delongas, eu só queria que alguém soubesse, sem rodeios e sem palpites, que mais uma pessoa teve sua alma escravizada por incógnitas que jamais serão respondidas. Talvez eu só queira avisar ao mundo que ele me perdeu pra uma garota. Uma garota irritante, cheia de defeitos incorrigíveis devido a sua teimosia, dos olhos habitados pelos meus maiores medos e maiores desejos, do toque que me destroi e me torna refém, do beijo que não me deixa padecer de abstinência, mas aumenta meu vício.

Perdão pelos clichês, pela inconstância desta carta e pela minha desordem. Agora, você aí e eu aqui, podemos simplesmente “shut the fuck up for a minute and comfortably share silence.", como Mia disse a Vincent, sabiamente.