sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A qualquer.

Quando o relógio marca quatro horas e uns minutos em uma madrugada qualquer, de um dia qualquer, a menina chora de forma quieta, sem mexer qualquer músculo de seu corpo qualquer. As lágrimas simplesmente rolam, como se tivessem vida. Os olhos estão vidrados. No quarto escuro nada se vê, mas a menina consegue projetar na direção em que olha um rosto que, pra ela, seria o silenciar das vozes que lhe falam da morte todas as noites solitárias.

A menina não consegue mais suportar o ‘tic tac’ do relógio, mas não possui forças pra fazê-lo parar, pois ela não se mexe, não se controla, não existe. Ao alcance de sua mão está uma caixa de remédios e uma garrafa de vinho tinto, ela quer pegá-los, e para isso, precisa apenas de força.

De repente, o rosto que a menina projeta desaparece, ela tenta formá-lo novamente, mas percebe que é o fim, se afunda ainda mais ao perceber que seu amor perdeu completamente o sentido. Nem ao menos as imagens formadas por sua necessidade de ter aquela pessoa ao seu lado podem ser usadas como fonte de energia pra sobreviver segundos mais.

A ausência de algo qualquer que venha da pessoa amada faz com que a menina, em uma inexplicável tomada de forças, pegue a garrafa e a caixa de remédios, beba o vinho e os remédios. Ela se deita novamente, começa a se sufocar com seu vômito, seu corpo começa, assim como aconteceu anteriormente com sua lucidez, a parar. Em seu ultimo suspiro, a menina consegue rever o rosto de seu amor, mas é tarde demais pra usar como motivo pra lutar. Ela se entrega.

O corpo da menina será encontrado por alguém e todos dirão que foi uma crise existencial, ou qualquer coisa gerada por rebeldia sem causa, e tudo isso porque nem todos acreditam que o amor, se não concretizado, pode ser a porta do desespero e o empurrão para a morte.

O mais instigante é que o relógio continuará fazendo ‘tic tac’, vinhos e remédios continuarão sendo fabricados em série e nada disso vai ser inspiração pra um poeta qualquer falar da menina qualquer, que morreu por um amor qualquer.

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