Voyeurismo de apartamento
Fumávamos
um filtro vermelho e olhávamos as outras cores, as que estavam além da
tela da sacada. Considero a sacada o paraíso dos voyeurs urbanos –
aqueles cujos olhos adoram concreto e os ouvidos poetizam buzina, motor e
o vazio barulhento da cidade cheia. Sobrevivendo entre óleo e fumaça,
árvores costuravam o asfalto até o fim da avenida. Meu amigo comentou
maravilhado sobre as árvores, como se fosse um grande motivo pra se
alegrar. E é. Gosto de estar na presença de quem também é apaixonado por
contemplar. Talvez eu não confie na humanidade de quem não sente alguma
coisa lá no fundo ao olhar pro mundo que o cerca, pra rotina que o
prende.
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