sexta-feira, 13 de julho de 2012

Não tenho orgulho de ser lésbica e não preciso me casar

Já me perguntaram algumas vezes sobre isso e já vi muitas pessoas declarando: "tenho orgulho de ser gay/ lésbica/ bi/ trans". Não vejo motivo pra se orgulhar de algo que não é bom ou ruim, algo que simplesmente é. Um negro não tem motivo pra ter orgulho de ser negro, assim como um branco por ser branco etc. É claro que existe uma carga cultural extremamente relevante, principalmente no caso de negros e não-héteros, o que não torna determinada "condição" uma qualidade.
Eu me orgulho de ter me assumido, me orgulho da pequena militância que pratico e me orgulho de alguns amigos e figuras públicas decentes. "Orgulho gay" é uma má interpretação do que é ser gay. Ser gay não é nada, como você lida com isso, sim. Orgulhar-se de simplesmente ser é reforçar uma barreira social que nem deveria existir. Algumas coisas, por mais positivas que pareçam (como o próprio movimento LGBTT) são, muitas vezes, um desfavor à desmistificação da sexualidade.
Já postei algumas vezes no facebook e no blog sobre como buscar mais o direito ao casamento que o direito de ser livre fora da heteronormatividade me soa, no mínimo, inocente. Poder casar na igreja, formar um CASAL (a palavra se refere, originalmente, a um par composto por UM macho e UMA fêmea) não é buscar liberdade, é enquadra-se nos padrões heteronormativos cristãos/ católicos. Não que o direito ao casamento deve ser negado, obviamente, mas não consigo entender o motivo pelo qual as pessoas não percebem que, dessa forma, o respeito por sua orientação sexual só existirá devido ao disfarce do "diferente".
Lutar por liberdade não deveria ser uma causa dos LGBTTs e dos simpatizantes. TODOS deveriam lutar pela quebra das correntes conservadoras que limitam a manifestação da complexidade humana em todas as suas formas. Por que não se luta pelo casamento triplo? Por que não se luta pelo respeito aos "promíscuos"? Por que não se luta pelo amor livre, ou pela falta de amor? Por que venerar o amor romântico e ignorar todo o espectro de outros tipos de amores (e não-amores)?
Ter que enquadra-se não é liberdade.

Um comentário:

  1. Muito bom Mandinha.. Muitas vezes nos enquadramos e nos reduzimos para "caber" nas situações predefinidas pela sociedade. Qdo na verdade deveríamos nos questionar se realmente são essas todas as nossas opções. Pq não tentar dar um passo atrás e considerar a existência de outras possibilidades além do nosso campozinho de visão restrito? =)

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